24 de ago. de 2016

Vamos Refletir?



Hoje eu vou falar de algo que está presente no nosso cotidiano e que, talvez, você mesmo tenha reproduzido e nem se dado conta do peso que ele carrega. Sabe aqueles memes que surgiram de “pastel de flango”, “Xô, flango, vai buscar catupily” ou “cebora”, como a participante chinesa do Mastercef falou? Então, muitas pessoas acham engraçado, né? Acham engraçado e por isso reproduzem achando que estão abafando, mas não fazem ideia do quanto isso é ofensivo.

Você consegue entender a problemática disso? Você consegue compreender o quanto é constrangedor você estar se esforçando ao máximo para falar/ se comunicar em um idioma completamente diferente do seu e as pessoas que sabem bem o idioma, falarem na sua cara do mesmo jeito que você e depois rir?
Eu nasci no Brasil, sou descendente de japoneses e mesmo falando a língua portuguesa perfeitamente, sou “obrigada” a escutar dessas ditas “piadinhas”.

Não, isso não é piada. Isso é racismo. Isso é xenofobia. Não, eu não sofro xenofobia porque sou brasileira, mas racismo sofro sim. Óbvio que em um teor completamente diferente dos negros. Eu não tenho o privilégio branco, tá?

As pessoas tem mania de chamar qualquer oriental de “japa”, reduzir chineses a comer carne de cachorro, reduzir japoneses a vendedores de pastéis, reduzir japoneses a pinto pequeno.

Chamar de “japa”, “china” e “coreba” é ofensivo, tá? Eu ODEIO que me chamem de “japa”, ODEIO! Se sabe meu nome, por que me chamar pela minha descendência? Por que me reduzir a minha descendência? Por que me chamar de “japa” se sou brasileira?
Sim, eu sei que tem descendentes que não ligam serem chamados de “japa” e, alguns, até se denominam assim, mas isso não quer dizer que está liberado chamar todos os descendentes assim, tá? Fora que, tem um pequeno detalhe: pode acontecer do descendente em questão, “aceitar” ser chamado assim para não ser excluído da roda, não ser chamado de “chato do rolê”, ou seja, se submetem a isso só para serem aceitos. Por que falo com certeza? Porque já me submeti a apelidos só para ser um pouco aceita. Sim, nem que fosse ridicularizada, “aceitava” porque diziam que era “brincadeira”.

Há o mito de que japoneses são muito inteligentes e blá, blá, blá. É mentira, tá? Japoneses e seus descendentes são muito focados e esforçados. Não estou dizendo que as outras pessoas não são, tá? Só que, normalmente, rola MUITA pressão da família e da sociedade. Muitos japoneses comete suicídio por isso, por acharem que fracassaram e são uma vergonha para a família, vai desonrar a família. Por isso, não saia dizendo que não tem chance porque tem um descendente de japonês concorrendo à vaga com você. Isso já é um tipo de pressão em cima dos descendentes.

Teve uma matéria em um site, onde apareceu que ficaram gritando “China In Box” para torcer pelos chineses e que é normal porque é engraçado! Tipo... NÃO! Isso não é engraçado e não deveria ser normal! Veem como está tão naturalizado que as pessoas não percebem a problemática?

Aí me falam “Ah, Yah, mas é só brincadeira, é humor. Brasileiro zoa com tudo!”. A partir do momento em que se usa da etnia ou cor de pele da pessoa para fazer “humor”, pra mim, nada mais é que falta de respeito. Se zoa com tudo, por que nunca vejo “piadinha” com europeu? 

Uma vez, cometi o erro de comentar em uma página onde zombavam de chineses... Um dos comentários que mais teve é que eu sou mal amada, minha vida era uma bosta... Só que, na verdade, acho que a vida dessas pessoas é que é uma bosta porque se precisam ser xenofóbicos para fazer o dito humor, é porque a coisa não tá boa...
Então, meu recadinho de hoje é esse, parem de “zoar” com esse tipo de coisa. Não é legal, não é divertido, não é agradável. É xenofóbico, é racista, é degradante, é desagradável, é extremamente constrangedor. 

Vou deixar aqui meu vídeo, onde falo do mesmo assunto. Praticamente a mesma coisa, mas falado rs


2 comentários:

  1. Legal seu post, mas acho que tá exagerando! ;-)

    Sou brasileiro, descendente de italiano e moro no Québec, Canada. Aqui, tenho que lidar com uma cultura completamente diferente e longe de todas as pessoas que conheci durante minha vida toda. Diferentemente de você que é uma descendente vivendo no país o de nasceu, eu tive que reaprender, aos 30 anos, a viver de outra forma.
    Mesmo tendo um francês fluente e até sotaque, eu cometo erros bem cômicos no idioma que nunca tive contato nem na escola.

    Obviamente, fazem piadinhas com esses erros ou algumas pronúncias. Sabe como eu lidou com isso? Rindo! Simplesmente porque é verdade. Eu nunca serei um nativo, assim como sempre me senti um turista no Brasil. Viver a vida com bom humor trás muito mais alegrias que dificuldades.

    Talvez, pelo meu bom humor com essas situações, acabei me integrando mais facilmente neste novo lugar, que hoje eu chamo de casa. Tenho grandes amigos, um ótimo emprego e tudo mais. Isso porque estou aqui apenas há 5 anos.

    Então eu deixo a pergunta: será que o problema é realmente o mundo à nossa volta ou será que somos nós mesmos que temos dificuldade em lidar com a vida e preferimos complica-la pra poder dar sentido às coisas?

    Abraços de um imigrante que ri da própria desgraça! 😉

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